Júlia Lemmertz, atriz, se inspira na mãe, Lílian
"A Fernandona (Fernanda Montenegro) me inspira demais pela maneira como encara o ofício. É intensa. Ela diz que é preciso atender 'o chamado' da profissão, que é difícil. E a celebrização da vida do ator complicou. O que interessa ficou em segundo plano. Contam mais a roupa que uso, aspectos pessoais, que não são importantes. E tem minha mãe. Mas aí é um misto de coisas: há também a mulher e a atriz. Quando morreu (em 1986, de infarto), eu estava começando na carreira. Hoje me vejo um pouco como ela - na exigência, por exemplo. Tenho impaciência, perfeccionismo... Ela me criou com muito amor, mas foi exigente. Sou um pouco mais bem-humorada, mas levo para minha vida coerência, como ela. Uma cena é sempre uma cena, não é piada. Ao mesmo tempo, não dá para ser a chata."
"Não só como atriz mas também pelo modo de tratar as pessoas fora de cena, dona Laura Cardoso sempre será inspiração. Com vigor invejável, emenda uma novela na outra e ainda faz teatro. Quero chegar aos 87 anos com igual disposição. E como é espirituosa, tem humor! Nos intervalos de gravação de Gabriela, a gente ficava fofocando e dona Laura participava, fazia questão de se sentar junto, no chão, para ficar falando sobre os bofes da novela, os mais bonitos. Dizer que é boa atriz é pouco. Ela é excepcional. Sempre que eu sabia que estava gravando em algum estúdio, ia olhar para aprender. Antes de ser atriz, eu já acompanhava sua carreira e a admirava. Até porque é fisicamente parecida com minha avó paterna. Ah, ela nunca gostou de ser chamada de dona Laura. Já pediu que esquecesse o 'dona' Laura é intensa, com uma força cênica especial."
"Na minha vida, tenho duas mulheres que me inspiram: minha mãe, Cleusa, e minha filha, Sofia. Admiro a força e a garra da minha mãe. Na minha adolescência, naquele período em que a gente acha que sabe tudo, ela praticamente me expulsou de casa para que tivesse coragem de correr atrás dos meus sonhos. Ela não queria que me acomodasse, que ficasse sonhando sem sair do lugar. Já na Sofia, admiro a alegria, o amor que ela me dá, a delicadeza, a inocência, a pureza e a expressão do feminino. Ela me inspirava desde que eu estava grávida, pois já tinha a sensação de amor maternal. Com mais ou menos 1 ano, entrou em uma fase gostosa e pura de observar o pôr do sol, as formiguinhas... Coisas pequenas que, na verdade, são tão grandes, sabe? Meus valores mudaram com ela, já que me estimula a dar valor ao que realmente interessa."
Fernanda Montenegro, atriz, se inspira em Irmã Dulce
"Primeiro, penso na minha avó materna, Maria Francesca. Até meus 13 anos, meus pais me deixavam muito com ela. Pode parecer estranho, mas ela foi ótima companheira de infância. Contava sobre sua terra, a Itália: histórias da carochinha, de religião... Mas não era carola. Assim, minha mãe, Carmen, fica com ciúme e ela é outra inspiração. Não era essencialmente carinhosa, tatibitate, mas estava lá, necessária, com sua organização impecável, sempre presente. E penso em Irmã Dulce, que me tocou de maneira intensa. Ela foi à luta cedo e, para buscar pessoas, ia a cada fim de mundo - e numa época nada fácil para as mulheres. Isso era de uma audácia, uma coragem!"
Carla Camurati, cineasta, se inspira em Fernanda
"É difícil escolher uma só. Várias figuras femininas me inspiraram. Fernanda Montenegro é uma delas. Não só pela grande atriz que é mas também pela forma como ela vê a vida, como são os relacionamentos que ela estabelece com as pessoas. A Fernanda tem uma percepção humana muito especial. Conhece pelo olhar, sabe o que falar para cada um, sempre com gentileza e generosidade. Quando a conheci, eu estava começando na carreira. Então, ela se tornou uma referência mesmo. Aprendi muito prestando atenção em sua maneira de atuar, de lidar com os personagens, observando-a estudar seus textos, uma coisa que ela faz lindamente... A maneira como se relaciona com a profissão é realmente admirável."
Lília Cabral, atriz, se inspira em Cleyde Yáconis
"A mulher que mais me inspirou e inspira até hoje é a Cleyde Yáconis (morta em 2013, depois de sofrer uma isquemia), com quem trabalhei em 1992, na peça O Baile de Máscaras, de Mauro Rasi. Naquele tempo, ainda tinha dúvidas sobre os caminhos que minha carreira e a própria vida tomariam, e a convivência com ela foi um estímulo para levar meus projetos adiante. Durante nove meses, dividimos o mesmo camarim e esse período me marcou profundamente. Serviu como uma pós-graduação na arte de interpretar, ao mesmo tempo em que me mostrou que se pode viver com absoluta simplicidade mesmo sendo, como a Cleyde era, uma grande dama dos palcos. Fortalecida pelo seu exemplo e suas palavras de incentivo, montei em seguida o meu primeiro monólogo, Solteira, Casada, Viúva, Divorciada, pelo qual recebi o Prêmio Shell."
Glória Maria, jornalista, se inspira em Márcia, Bethy e dona Edna
"Vou citar três. Márcia Mendes (morta de câncer em 1979) foi uma grande apresentadora de TV. Competente, linda, elegante, maluca (risos). Tudo que sou devo a ela. A ex-modelo e empresária Bethy Lagardère saiu do interior de Minas Gerais, se casou com um poderoso empresário francês e continuou a comer brigadeiro com os mesmos amigos e o mesmo humor. Ganhou sofisticação, mas a alma se manteve. Culta, a conheci em Paris, fui com ela a museus e aprendi tanto. Mas mamãe, dona Edna, foi a primeira fonte de inspiração. Nunca levou a vida muito a sério, nunca discriminou nada nem ninguém e nos ensinou a lidar com o preconceito e a ser livres. Está aí, viva, forte e cheia de amigos."
Costanza Pascolato, empresária, se inspira em dona Gabriella
"Só posso falar da minha mãe, Gabriella. Meus pais, de família riquíssima, vieram da Itália depois da Segunda Guerra. Ela era culta e formada, algo incomum. Mas chegaram com uma mão na frente e outra atrás. Trabalharam em casas de moda até ela ter a ideia de criar uma tecelagem e produzir seda pura. Só existia algodão aqui. A qualidade era tão boa quanto a francesa. Depois inovou usando fibras mais modernas. Era corajosa e falava o que pensava. Como ninguém mexia em seus remédios, em 2010, aos 94 anos, trocou o da tireoide pelo da pressão, oque causou complicações. No hospital, ao saber que voltaria para casa com oxigênio e aparato, disse não querer. Morreu pouco depois. Até o fim, manteve a dignidade."
Maya Gabeira, surfista, se inspira em Karina Hollekim
"Vou citar a Karina Hollekim. Ela era base jumper profissional. Já assisti a documentários sobre sua vida e seus saltos. Há alguns anos, ela sofreu um acidente em um salto: seu paraquedas reserva não abriu. Bateu contra uma árvore a mais de 100 quilômetros por hora, mas sobreviveu. embora suas chances de andar de novo fossem mínimas, ela conseguiu após anos de fisioterapia. Mais: seis anos depois do acidente, voltou a praticar esqui, seu outro esporte. Os médicos não poderiam prever. Ela não faz mais base jump, pois as pernas nunca voltaram aos 100%, criando limitações de pouso. Hoje, ela dá palestras motivacionais e, logo após meu acidente (em outubro de 2013, Maya sofreu uma queda de uma onda gigante em Portugal. ficou inconsciente e quebrou o tornozelo), nos conhecemos pelo Skype. Foi inspirador conversar e dividir dúvidas com quem tem experiências como as dela."
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